Uma “bela” prisão
Em nome da beleza, essa entidade indefinida, que vai mudando de acordo com as modas, impomo-nos limites:
– Não se faz isso porque não fica bem;
– Não vistas isso porque não te favorece;
– Não digas isso porque não é bonito;
– Isso já não se usa, não está na moda;
– Não te penteies assim que não se nota o quão bonita és;
– Põe mais isto (ou tira mais aquilo) e vais ficar linda.
A Beleza é a meta omnipresente na vida das mulheres. Se pensarmos bem, percebemos que sempre que haja outras pessoas envolvidas, ainda que perfeitos estranhos, o objetivo de permanecer bela deve estar presente, deve ser equacionado e, pior ainda, deve prevalecer. Ou é o que nos querem fazer crer. Porque cabe a cada uma de nós dizer: NÃO!
A beleza, com todo o valor que lhe possamos atribuir, nunca deve ser o valor máximo e nunca deve prevalecer sobre tantos outros de muita mais monta. Quais?
– Ser boa pessoa; Ser educada; Saber respeitar as liberdades alheias; Exigir respeito (tão importante como respeitar os outros é não permitir que nos desrespeitem); Saber assumir os erros; Saber educar e dar um bom exemplo e tanto, tanto mais.
A beleza tornou-se a prisão-mor da vida das mulheres, de tal forma assimilada que a vamos transmitindo e impondo, de formas mais ou menos disfarçadas. Repassamos umas às outras estas ideias: de mães para filhas, de amigas para amigas, de conselho em conselho, sem questionar a sua validade, a sua utilidade e a sua praticabilidade.
Com a ajuda das imagens da Hilda, criada pelo ilustrador Duane Bryers na década de 50 do século passado, reuni algumas das frases que fui ouvindo amiúde ao longo da vida. Uma ouvi uma só vez, mas a maioria ouvi muitas vezes, algumas são presença assídua sempre que vou comprar roupa. E isso mostra o quão entranhadas na nossa sociedade elas estão, de tal forma que diferentes pessoas as repetem ipsis verbis, como leis comummente aceites como inquestionáveis.
O que vos sugiro é que tentem responder a estas perguntas:
– Quantas destas frases já ouviram?
– Quantas vezes ao longo da vida as ouviram?
– Que valor é que elas realmente deveriam ter na nossa vida?
– Que valor tem deveras: seguem-nas sempre, só de vez em quando ou ignoram-nas?
De salvaguardar aqui que não estou, de forma nenhuma, a criticar as mulheres que seguem estas e mais um ror de regras que nos impõe. Se querem seguir, se vos faz sentido, se não lhe vêm mal e nem sentem desconforto algum, força, continuem; pensem nas vossas motivações e na sua validade, mas continuem se assim quiserem. O que eu critico é a forma como estas ideias são repassadas, como se fossem dogmas, e a forma como percecionamos quem não as segue: como desleixadas, pouco competentes, pouco rigorosas, com pouca higiene e, a “cereja no topo do bolo”, como pessoas sem amor-próprio e baixa autoestima (inserir aqui um revirar de olhos épico).
Texto de: Helena Barreto Ferreira
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