Uma análise à época do Gil Vicente: para a história!

O verão de 2021 foi equilibrado para a turma do Gil Vicente FC. É verdade que saíram
jogadores nucleares como Ygor Nogueira, Joel Pereira, Lourency, Claude Gonçalves ou Pedro
Marques, mas as suas vagas foram devidamente preenchidas com as chegadas de Lucas
Cunha, Zé Carlos, Murilo ou Fran Navarro. Um mercado de transferências que de um cômputo
geral foi positivo, mas que no entanto não colocava as expetativas barcelenses em muito mais
do que alcançar uma época sem grandes apuros na tabela classificativa. Nada faria prever o
quinto lugar final.

No entanto, como já muitos não se devem lembrar, o começo de temporada não foi assim tão
risonho. Ainda antes do pontapé de saída da Liga Bwin, os comandados de Ricardo Soares
falharam o apuramento para a fase de grupos da Taça da Liga, após uma derrota nas grandes
penalidades frente ao FC Paços de Ferreira.

O começo de campeonato não foi muito melhor. Apesar de duas vitórias nas primeiras duas
jornadas, seguiu-se uma série de sete encontros sem vencer. À 12ª jornada, o Gil Vicente FC só
havia conseguido três vitórias na Liga Bwin. Nesse mesmo período, deu-se a desapontante
eliminação da Taça de Portugal frente ao Leça FC, equipa do terceiro escalão do futebol
nacional.
No entanto, o volte face aconteceu a 5 de dezembro, na receção ao FC Famalicão. Uma
exibição convincente com um volumoso resultado de 4-0 impulsionou os gilistas para um dos
melhores períodos da história do clube na Primeira Divisão. Foram 15 encontros onde se
registou apenas uma derrota frente a um dos grandes, o Sporting CP. Desses 15 jogos, nove
terminaram com vitória barcelense, com particular destaque para os triunfos nos redutos de
SL Benfica e de SC Braga. Merecedor de referência é também o empate no Estádio do Dragão a
uma bola, com a especial particularidade de que os minhotos, a bem dizer, jogaram todo o
encontro reduzidos a dez unidades.

Para que se tenha uma ideia, no período de 14 jogos compreendido entre a 13ª e a 26ª
jornada, só FC Porto e Sporting CP fizeram mais pontos que a equipa de Barcelos. Em 42
pontos possíveis, os barcelenses conquistaram 31, sendo que, por exemplo, no total da
temporada anterior haviam conquistado 39.

Por essa altura, para muitos, o Gil Vicente era a equipa que melhor futebol jogava em Portugal.
Exemplo disso é o facto de Ricardo Soares ter sido eleito o técnico do mês por duas ocasiões
consecutivas (janeiro e fevereiro) e Pedrinho ter conquistado o prémio de jogador do mês de
fevereiro. Nesta fase, o quinto lugar parecia ser um dado mais do que adquirido para os galos,
que sonhavam vivamente com o quinto posto, dado que se encontravam a apenas um ponto
do SC Braga.

Todavia, na reta final do campeonato os barcelenses não conseguiram manter o nível soberbo
que vinham apresentando. Nas últimas oito jornadas, os jogadores de Ricardo Soares
conseguiram apenas uma vitória frente ao CD Tondela, por 3-0. Ainda assim, esse foi o triunfo
que selou o quinto lugar e um aparamento histórico para a UEFA Conference League.

Os gilistas igualaram a sua melhor classificação de sempre do clube na Primeira Divisão, mas
bateram muitos outros recordes. Desde logo, é a primeira vez que o Gil Vicente vai disputar
uma prova europeia. À parte disso, foi batido o recorde do clube de mais jogos consecutivos
sem perder numa edição do Campeonato Nacional (12). Já de um ponto de vista individual,
Fran Navarro balanceou as redes adversárias por 16 vezes, tornando-se o jogador a marcar
mais golos numa só edição de um Campeonato Nacional da Primeira Divisão com a camisa
barcelense.

Caso tivessem vencido em Guimarães na última jornada, os comandados de Ricardo Soares
bateriam também o maior número de golos e pontos obtidos numa edição do campeonato,
marca essa estabelecida na edição de 1999/00. Com tudo isto, é indiscutível que esta foi uma
temporada para mais tarde lembrar, podendo-se ainda colocar a questão se não terá mesmo
sido a página mais dourada dos quase 100 anos de história do Gil Vicente FC.

Artigo de: Luís Brito