Um amargo adeus à Europa
A segunda mão dos quartos-de-final da Liga Europa levou, na passada quinta-feira, o SC Braga até ao Ibrox Stadium, na Escócia. A turma de Carlos Carvalhal trazia uma magra mas preciosa vantagem mínima do primeiro encontro e sonhava em alcançar as meias-finais da competição, algo que não conseguia desde 2011. O ambiente foi, como se esperava, adverso, com uma enorme e fervorosa moldura humana escocesa a lutar o estádio. Ainda assim, há a assinalar igualmente a presença de muitos bracarenses, que viajaram desde o continente para tentar empurrar os arsenalistas para as meias-finais.
O técnico português surpreendeu nas opções para o 11 inicial, desde logo com a mudança de sistema. O Habitual 3-4-3, deu lugar a um 3-5-2, com a entrada de André Castro para reforço do meio-campo e com Ricardo Horta e jogar solto na companhia a Abel Ruiz na frente de ataque. Logo por aqui começaram os problemas da turma minhota. A introdução de um terceiro médio nunca permitiu aos Gverreiros do Minho ganhar o miolo: a turma escocesa, além dos três homens que habitualmente apresenta no setor central, introduziu Joe Aribo como um extremo nunca merecedor de tal designação, uma vez que jogou sempre por dentro, entregando a faixa para James Tavernier. O ala inglês que esteve uns furos abaixo do habitual na Pedreira mostrou a sua conhecida vocação ofensiva, sempre com o médio Ryan Jack a fechar o espaço que este deixara nas suas incursões ao ataque. Deste modo, Tavernier, bem ao seu estilo, precisou de 70 segundos para abrir o ativo, aparecendo numa sobra ao segundo poste.
A forma como o golo acontece elucida outra decisão tática de Carvalhal que acabou por não surtir o efeito desejado. Na primeira mão, havia jogado Fabiano, lateral direito de origem, como central pela direita, com Yan Couto a fazer esse mesmo corredor. No entanto, para o jogo de ontem, a opção recaiu no deslocamento de Fabiano para a faixa (muito provavelmente com intuito de travar duelos individuais com o possante extremo Ryan Kent) e foi Paulo Oliveira a completar o terceto central. Todavia, o Rangers surpreendeu ao introduzir Barišić, lateral esquerdo croata com muita chegada ao ataque, o que tornou o flanco da direito da defesa bracarense um terreno propício a lances de perigo. Fabiano na condição de lateral não conseguia dar conta de Kent e Barišić ao mesmo tempo, e Paulo Oliveira, por sua vez, não tem a velocidade necessária para prestar o devido auxílio ao seu companheiro.
Deste modo, foi no seguimento de um cruzamento do lateral croata que o Rangers abriu o ativo e, recorrendo a esse mesmo antídoto, duplicou a vantagem poucos momentos depois, porém o lance acabou invalidado pelo VAR, por um toque com a mão na origem do lance. O SC Braga entrou de forma apática na partida e demonstrava muitas dificuldades conseguir sacudir a pressão alta e constante dos escoceses que, por seu turno, entraram com níveis de intensidade elevados. Neste contexto, no momento de recuperação de bola, sentia-se a falta de referências bracarenses na largura, uma vez que a zona central estava muito congestionada. A defesa braguista não via então outra solução que não fosse tentar enviar a bola para Abel Ruiz tentar explorar a profundidade, algo que o espanhol nunca conseguiu fazer.
Percebendo as dificuldades que enfrentava, foi percetível que o plano dos minhotos foi de aguentar a desvantagem mínima até final do primeiro tempo, algo que acabou por não acontecer. Num lançamento longo para as costas dos centrais minhotos, Roofe acabou carregado em falta por Vitor Tormena, que não só cometeu grande penalidade como acabou expulso. Duro golpe para a turma de Carlos Carvalhal, que pior ficou com a conversão bem-sucedida do castigo máximo por parte de James Tavernier. Ao intervalo, o Rangers já havia voltado a eliminatória a seu favor, dominava claramente todos os momentos do jogo e o SC Braga estava reduzido a dez. Pior cenário seria difícil.
Tendo em conta as vicissitudes da primeira parte, esperava-se um ampliar natural da vantagem por parte dos escoceses, mas não foi o que se viu. Potencialmente galvanizada pelo facto de estar em inferioridade numérica, a equipa arsenalista puxou dos galões, manteve-se sólida e mostrou até uma capacidade muito maior de ter bola. Evidentemente que as melhores oportunidades foram pertencendo aos da casa, mas os guerreiros mostravam personalidade. Desta forma, já perto do final dos 90 minutos, David Carmo subiu mais alto que toda a gente na sequência de um canto, castigando a ineficácia dos escoceses e dando justiça à entreajuda dos portugueses.
Já no prolongamento, o Rangers mostrava-se desconfiado de si próprio e o SC Braga mesmo com menos um parecia estar psicologicamente por cima da partida. Ao começar a segunda parte do tempo extra, os Gverreiros ficaram a pedir, com alguma razão, um segundo amarelo para Roofe, mas foi a equipa às ordens de Carlos Carvalhal que se viu amputada de mais um elemento. Num ato intempestivo, Iuri Medeiros viu dois amarelos no mesmo lance, um por ação faltosa, outro por protestos. Com dois homens a mais na quadra, a turma escocesa colocou novamente o pé no acelerador e, ironia do destino, foi Roofe quem fez o terceiro tento para os da casa. Até final, o conjunto arsenalista nunca desistiu de procurar um golo que levasse a decisão da partida para a marca dos 11 metros, no entanto, com dois homens a menos, nunca foi capaz de assustar.
Deste modo, os bracarenses ficam arredados das competições europeias e já não há nenhuma equipa portuguesa nas mesmas. Fica a ideia que os pupilos de Carlos Carvalhal sentiram o golo sofrido logo a abrir e ficam a dever a si mesmos uma melhor entrada no jogo. Ainda assim, fica a ideia que com os níveis de concentração no máximo e de 11 para 11, o SC Braga teria tudo para eliminar o Rangers FC. Há ainda a ressalvar a meritória caminhada dos bracarenses na prova, tendo eliminado, por exemplo, o Sheriff e o AS Mónaco. Nota de destaque também para os adeptos minhotos presentes no Ibrox Stadium, que nunca deixaram de apoiar a equipa, mesmo com um resultado adverso.
Fotografia: SC Braga
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