Sejamos optimistas!

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Em 2050, face a projecções divulgadas pela Unesco, o mundo contará com
400 milhões de Lusófonos. Enquanto previsões, esses números não estão
gravados numa pedra de mármore e, por isso, temos de ser realistas,
atentos e, sobretudo, pró-activos, face a um “mundo” que se vai revelando
cada vez mais aguerrido.

Assumamos, então, a nossa quota-parte na reconfiguração desse mundo.
É nossa profunda convicção de que o português, tal como acontece com
outras línguas de comunicação, também pode ser uma língua comercial, de
evolução tecnológica, da sociedade da informação ou de investigação
científica. Mas, para tal, temos de acreditar nisso e, acima de tudo, ter essa
pretensão e munirmo-nos de todos os instrumentos para a sua consecução.

A cultura lusófona abre mundos
Temos de valorizar os nossos trunfos à escala continental. Não se trata,
unicamente, de divulgar a cultura lusófona no mundo, mas também as
criações em língua portuguesa que abrem portas para outros universos,
outras cosmogonias, outras maneiras de estar no mundo e entender o
mundo.

Se nós não acreditarmos nessa extraordinária riqueza da literatura, da
música, do cinema e da criação em língua portuguesa, se não tirarmos
partido a nível das indústrias culturais, se não fomentarmos a circulação dos
artistas e das suas obras, até mesmo no plano dos países da Lusofonia,
então, é muito provável que um dia venhamos a ser formatados por um
pensamento, um imaginário e sonhos padronizados.

Devemos assumir a nossa quota-parte nessa reconfiguração do mundo,
com a convicção de que poderemos cimentar esse espírito de solidariedade
que constitui a própria essência da Lusofonia, contribuindo para a afirmação
e a difusão dos valores que a mesma veicula e, dessa forma, nestes tempos
de crise, tornaremos compreensível e evidente a necessidade imperiosa de
uma solidariedade com base nos actos.

“ Sim, falamos português”
Para tal, temos de falar português com orgulho e assumi-lo sem complexos.
Gostaríamos que a máxima voluntária – “Sim, falamos português” – fosse
adoptada pelos funcionários internacionais, pelas elites e pelos altos
responsáveis portugueses que aderem permanentemente à dialéctica
anglicística. Aliás, torna-se difícil aceitar a ideia de vergar o pensamento a
uma língua que se fala com relativa proficiência, se pensarmos como a
tarefa já é difícil com a própria língua materna.

Com o sentido de humor que lhe era característico, Winston Churchill
afirmava que “o inglês é a língua mais fácil de ser mal falada”. Ora, num
contexto de negociação, de conversações ou na elaboração de uma
resolução, sabemos que todas as palavras pesam. É precisamente a nível
das organizações internacionais que o futuro da língua portuguesa está em
jogo, pois a escolha da língua na qual nos expressamos constitui, em si, um
acto político proeminente. Não é por acaso que, conforme se constata, os
representantes dos Estados de expressão árabe ou de língua espanhola, se
expressam, cada vez mais, nas suas línguas.

É um imperativo que a Lusofonia defina, urgentemente, uma política da
língua fundada num espírito de partilha e de solidariedade! Já dizia o
filósofo Alain: “O pessimismo é humor, o optimismo é vontade”. Sejamos
optimistas!


Texto: Isabelle de Oiveira | Professora Titular HDR – Universidade Sorbonne Nouvelle –Paris
Presidente do Instituto do Mundo Lusófono
Vereadora na Câmara Municipal de Barcelos

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