São pedras e apenas pedras….
Recentemente, aproveitei o feriado de agosto, para deixar a capital por uns dias e
rumar até Barcelos.
Como é habitual, tirei uma tarde e fui até à Franqueira. Precisa de tirar umas
fotografias para complementar a minha dissertação de mestrado. Aproveitei e dei uma
volta por lá. Foram vários os registos fotográficos.
Quando ia em direção ao Castro e Castelo de Faria, uma ligeira confusão passou
pela minha cabeça. Da última vez que lá tinha estado, já havia uma ligeira mata, mas
ainda era possível distinguir as suas ruínas e os seus muros praticamente desfeitos.
Mas desta vez, a ligeira mata estava num autêntico matagal, onde nada se via ou
distinguia. Quase tive dificuldade para perceber onde se encontravam as ruínas. Árvores
caídas, outras por cair ou quase a cair. O pouco que resta dos muros estava num estado
lastimável.
A paisagem onde se insere o Castro e Castelo de Faria é capaz de comunicar
todas as informações de interação entre o Homem e a Natureza, servindo como
intermediário onde se contruiu e constrói uma íntima relação com um lugar.
As ruínas do Castro e Castelo de Faria foram classificadas, no dia 13 de julho de
1956, como Monumento Nacional. Contudo, isso é um mero título que nada afasta o seu
abandono. É um monumento engolido pela natureza.
O lugar apresenta um invulgar quadro cronológico, que justifica a evolução do
povo dentro de uma área fortificada e as suas atividades, que refletem a época em que
viviam. Vários períodos deram vida ao Castro e Castelo de Faria, começando pelo
Calcolítico (ou Idade do Cobre, situa-se entre o Neolítico e a Idade do Bronze) e
terminando na Idade Média. Nesta altura, o castelo deixa de ter utilidade e foi tempos
em que o último homem o abandonou.
Apesar de terem sido feitas descobertas e escavações no século passado, o
Castro e Castelo de Faria parece cair no esquecimento, todas as vezes. A conservação
não parece ser pensada e todos os que por lá passaram e passam têm uma visão ocultada
pela densa vegetação. São pedras, e continuam a ser pedras….
O principal objetivo da conservação é proteger o património cultural (o
património arqueológico insere-se no património cultural) de danos e perdas. O efeito
da conservação é essencial para uma correta e clara identificação e interpretação do
lugar, por parte de quem lá vai. Junto ao recinto do sítio arqueológico o que identifica o
lugar é uma placa, também colocada recentemente. No entanto, nada mais identifica o
lugar no vasto matagal que se encontra.
Além disso, para o processo da conservação é fundamental que haja um rigoroso
e total respeito pela integridade do lugar e pela sua história. Na mesma linha de
pensamento, a conservação consegue ter um efeito positivo em nós da nossa perceção
na autenticidade do local.
Contudo, compreendo que não seja fácil… compreendo que exista entraves que
não possibilitam a preservação e salvaguarda do que foi e é o Castro e Castelo de Faria.
Para defender, preservar ou proteger um monumento ou testemunho
arqueológico, deve-se considerar o valor histórico e patrimonial que ele apresenta, mas
também a relação que a sociedade tem para com esse bem. Por isso, o primeiro passo
para se proteger é envolvermo-nos com o lugar e informarmo-nos acerca da sua
importância histórica e patrimonial. Já fizeram isso?
Termino a reflexão com uma frase de Alexandre Herculano 1 , que diz o seguinte:
“se converteram em dormitórios as salas de armas, as ameias das torres em bordas de
sepulturas, os humbraes das balhesteiras e postigos em janelas claustraes. O ruido dos
combatentes calou no alto do monte e nas faldas delle alevantaram-se a harmonia dos
psalmos e o sussurro das orações. Este antigo castello tinha recordações de glória. Os
nossos maiores, porém, curavam mais de praticar façanhas do que de conservar
monumentos dellas. Deixaram, por isso, sem remorsos, sumir nas paredes de um
claustro pedras que foram testemunhas de um dos mais heróicos feitos de corações
portugueses”.
1 Em Faria, Anthero de (1947). Franqueira. Barcelos: Companhia Editoria do Minho.
Créditos: Vanessa Fernandes
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