Onde para a vírgula
Já aqui abordei a importância do uso correto das vírgulas: aqui e aqui.
Hoje volto à vírgula e ao seu papel fundamental para a boa comunicação por escrito.
Já me disseram, por mais do que uma vez, que esta minha fixação com a correção na escrita é desnecessária, supérflua, que a comunicação na realidade acontece quer se cumpram as regras quer não. A professora de Português em mim tem que apelar ao seu lado zen quando ouve tais coisas, mas, depois de acalmar, percebo o que me querem dizer. Percebo, mas não concordo. Com ou sem correção gramatical, a comunicação pode acontecer, mas não acontece com a mesma qualidade (parte importantíssima) e acontece com muitos mais mal-entendidos do que se desejaria.
Vejamos casos práticos:
Escrever “João vai à escola” é bem diferente de escrever “João, vai à escola”. Uma única vírgula muda o conteúdo expresso.
1ª “João vai à escola.” – Frase declarativa que indica o que o João vai fazer.
2ª “João, vai à escola.” – Frase imperativa, que contém uma ordem dirigida ao João, mas que não indica se ele vai à escola ou não, indica somente o que lhe foi dito para fazer.
Esta vírgula está aqui a cumprir o seu papel importante de separar o vocativo – o nome da pessoa que é interpelada ou chamada.
Outro exemplo:
– “Mãe há só uma.” – a frase que todos conhecemos e que pretende realçar o valor único de cada mãe e o seu papel importantíssimo na vida das filhas e filhos.
– “Mãe, há só uma.” – alguém chama pela sua mãe, informando-a de seguida que só existe um exemplar da coisa que ela pediu.
Exemplo:
Mãe: Rui, vai à fruteira e traz-me duas laranjas.
Rui: Mãe, há só uma.
Nas duas frases deste exemplo temos o vocativo devidamente separado por vírgulas. Sem elas poderíamos assumir que a mãe estava somente a contar o que o Rui fez e não a fazer-lhe um pedido. Na resposta do Rui, assumíramos que ele estava a repetir a frase feita sobre o valor das mães.
Para variar, deixo-vos um desafio:
Em qual destas frases devemos colocar uma vírgula para separar o vocativo e onde?
- Ela disse: “Maria anda cá!”.
- Ela disse à Maria para vir cá.
A resposta a este pequeno desafio virá em breve. Entretanto deixem as vossas “apostas” nos comentários.
E já sabem, se tiverem sugestões de temas a abordar ou dúvidas que gostassem de ver esclarecidas nesta rubrica, enviem e-mail para helenabarreto77@gmail.com, que é a versão atual e possível de se tiverem dúvidas, levantem o braço!
Helena Barreto Ferreira
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