A vírgula que salvou a avó

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A correta utilização da vírgula pode ter uma importância absoluta na comunicação escrita. A verdade é que a presença ou ausência da vírgula pode transformar, de forma radical, todo o sentido de uma frase.

Vejamos o seguinte exemplo e a forma como a vírgula salva a vida da avó:

Os meninos foram comer a avó também.A fazer fé no que nos é aqui dito, a avó teria sido comida pelos meninos.

Mas, basta uma vírgula para que a sua vida seja poupada:

Os meninos foram comer, a avó também. – Nesta frase a avó sentou-se à mesa com os meninos e juntos tiveram uma refeição (supomos nós) agradável.

Outros exemplos de transformação radical do significado acontece nas seguintes frases:

– Não vou!

– Não tenho certeza do que ouvi.

Na primeira frase a pessoa recusa ir (a algum lado).

Na segunda frase a pessoa está em dúvida acerca do que ouviu.

Agora vejamos a diferença que uma simples vírgula pode fazer:

– Não, vou!

– Não, tenho certeza do que ouvi.

A presença da vírgula, que isola o elemento de negação, faz com que os sentidos das frases mudem radicalmente:

Na primeira frase, a pessoa afirma que vai (a algum lado).

Na segunda frase, a pessoa nega ter dúvidas e mostra-se com certezas sobre o que ouviu.

E se na oralidade o tom se encarrega de esclarecer o sentido pretendido, na escrita é a vírgula que traz a definição necessária: com ela a avó é salva; sem ela recusamos sair e, por último, com ela encontramos certezas.

Explicar as regras de utilização da vírgula não é tarefa fácil. São muitos os contextos em que ela faz falta e muitos outros em que é usada erradamente. Em artigos próximos tentarei abordar alguns desses contextos.

Para já deixo aqui uma pista importante, mas contrária a uma ideia que se disseminou e que muito contribui para que a vírgula seja tantas vezes mal empregue: 

A vírgula não deve ser usada para marcar uma pausa na frase.

Recordo-me de me ensinarem que o ponto final correspondia a uma pausa longa e a vírgula a uma pausa curta. Esta ideia simplista acerca da função da vírgula serviu para que haja quem escreva frases como estas (que estão erradas):

*Eu, gosto muito de aprender!   

*Disse-lhe, que se ganhasse gritava.

Imagino que a presença destas vírgulas corresponda a pausas que a pessoa faria na oralidade, mas na escrita estas vírgulas estão em total desacordo com as regras.

Irei escrever mais sobre as vírgulas em publicações futuras e tentar clarificar o seu uso, entretanto já sabem:

Se tiverem dúvidas, levantem o braço.

Helena Barreto Ferreira

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